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Obrigado pela compreensão.
A freguesia de Santa Luzia é o local onde se desenvolve este percurso que foi oficialmente sinalizado numa extensão total de 10,5 quilómetros.
O Percurso atravessa a PAISAGEM PROTEGIDA DA CULTURA DA VINHA, classificada de Património da Humanidade pela UNESCO, em direção ao Lajido, local onde são evidentes os elementos que sustentaram a atribuição desse título.
Começamos no entroncamento da Rua da Eira com a estrada, no local dos Fetais (Ponto 1). Desça por este caminho asfaltado, entre terrenos agrícolas com pinheiros bravos, ou pomares com de tudo um pouco: araçazeiros, ameixieiras, laranjeiras, oliveiras, nespereiras, vinhas, figueiras e castanheiros. Algumas plantas ornamentais como as hortênsias, as camélias e os malmequeres embelezam as extremidades dos terrenos.
Mas há mais…
Após 500 metros de descida, abandone o caminho, que o levaria ao Lajido do Meio, e siga por uma vereda à sua direita, bastante retilínea, que o levará até ao lugar do Lajido. Retilínea mas com um chão bastante irregular, esta vereda, sem a utilidade de outrora, fá-lo passar entre prédios agrícolas à procura de melhores dias. Aqui e ali, pedras dos muros juntam-se à rocha de lajido do chão. Mais adiante, são as agulhas dos pinheiros que forram o chão escondendo-o por completo.
Chega a uma renovada casa em pedra, com as típicas pedras a segurar as telhas, onde a vereda se transforma num largo caminho de bagacina. Mais 250 metros, onde as vinhas se mostram agora bem cuidadas, e está nas primeiras casas do Lajido. Os muros, que estão fechados, numa conformação quadrangular, protegem a vinha.
Com as doenças que mais tarde se instalaram e iam debilitando a atividade e qualidade vitivinícola, começaram-se a plantar figueiras (protegidas pelos muros em meia-lua, que por vezes irá ver), servindo a aguardente de figo como produto de consumo direto mas também como aditivo no preparo de alguns vinhos.
Atravesse a estrada de asfalto e siga o caminho antigo até junto ao mar. Veja bem o local onde se encontra, (chamemos-lhe Ponto A) pois terá que voltar aqui mais tarde. Agora, vire à esquerda, pois é hora de visitar o Lajido (Ponto 2), antigo centro habitacional e agrícola, com elementos arquitetónicos bem preservados e melhor recuperados.
Para além de um muito recente Centro de Interpretação, pode visitar casas, adegas, com os respetivos lagares e alambiques, armazéns, tanques de fermentação dos figos, o Solar dos Salgueiros, poços de maré, a Ermida de Nossa Senhora da Pureza e outras estruturas, tudo alvo de um cuidado plano de recuperação por parte da Secretaria Regional que tutela o Ambiente.
Terminada a visita ao Lajido, volte para trás, seguindo pelo litoral novamente até ao Ponto A. Aí, ao lado do caminho que o trouxe ao Lajido, vai encontrar uma antiga via de comunicação que ligava o caminho costeiro Lajido/Arcos a Santa Luzia. Faltam-lhe ainda 2.250 metros até à Estrada Regional.
Embora mais visíveis em alguns pontos, é possível observar-se em quase toda a sua extensão as rilheiras (Ponto 3), sulcos marcados no basalto, deixados pelos carros de bois que faziam o transporte do vinho. O rodar continuado de muitas décadas tornou possível perpetuar na rocha a mensagem dos tempos difíceis de então. Uma vida dura… mais dura que a rocha.
Com origem entre os séculos XVII e XVIII, este caminho (paralelo ou debaixo do atual), quase sempre bastante largo, com o pavimento na própria rocha natural ou com pequenas lajes em pedra, apresenta ao longo do seu percurso muros bastante altos, construídos em alvenaria de pedra seca, pontuados por ruínas de grandes portais e por algumas construções. Observando com atenção é surpreendente a forma como alguns dos obstáculos neste caminho eram ultrapassados.
Vai passar perto das ruínas do Forno dos Frades, com a sua imponente chaminé em pedra. Há quem diga que terá servido para a secagem dos figos, cuja produção está estreitamente ligada à da vinha. Outros referem que teria feito parte de um edifício de franciscanos, ligado à produção de vinho.
Chega a um entroncamento… continue a subir. Mais algumas rilheiras antes de nova bifurcação: siga em frente mais uns metros até ao asfalto da Rua do Lajido de Baixo.
Avance um pouco mais até surgir o início da Rua dos Arcos. Vire à direita e suba a canada em bagacina até à Estrada Regional, num cenário semelhante ao do início deste percurso. Chegará por fim à Estrada Regional (Ponto 4). Se deixou a viatura junto aos Fetais, então siga para a direita e irá encontrá-la.
Se optar por virar à sua esquerda, encontrará, 500 metros à frente, a Igreja de Santa Luzia. Deve seguir à direita. De acordo com a sinalização, o trilho prossegue em terra batida, por entre matas de pau branco, urze, e incenso, entre outros. Como pode observar no mapa, esta segunda parte do percurso é circular e termina na Igreja de Santa Luzia, por onde passou anteriormente.
Neste passeio advertem-se os pedestrianistas para não apanharem qualquer tipo de fruta… no entanto, se vir o dono é livre de a pedir, e certamente será recompensado.
PAISAGEM PROTEGIDA
DA VINHA
O verdelho do Pico, durante mais de duas centenas de anos, teve fama internacional, nomeadamente em Inglaterra, Américas e Rússia onde terá chegado à mesa dos Czares. Dessa intensa atividade, demonstrando uma perfeita adaptação do Homem ao meio, ficou um importante património histórico-cultural, onde se salientam típicas edificações como: solares, adegas, armazéns, poços de maré, rola-pipas, portos, casas conventuais, ermidas, entre outras estruturas.
Em 1996 foram classificados pelo Governo dos Açores, como PPIRCVIP – Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, 987 ares, rodeados por outros 1 924 ares de zona tampão. Mais tarde foi candidatado à UNESCO um conjunto das áreas mais representativas, em exploração vitícola, em fase de requalificação ou abandonadas, que mostrassem a diversidade de edificações e estruturas produtivas, exemplares na sua adaptação ao acidentado do relevo, à qualidade do solo, e à exposição aos agentes climatéricos.
A aprovação como Património Mundial da Humanidade veio em julho de 2004, sendo posteriormente criado um Gabinete Técnico que, após avaliação da realidade existente, definiu objetivos e implementou um plano de gestão integrada que permitiu proteger esse importante património, impedir o desaparecimento desta atividade e sensibilizar a população.
NAS LAVAS DA HISTÓRIA
A caminhada que se propõe fazer começa na zona planáltica, que forma a crista da ilha, levando-o numa descida até ao mar. Estamos portanto a falar de uma variação altimétrica dos 800 aos zero metros de altitude. Desse facto advém a singularidade de neste percurso percorrermos variados habitats, variadas naturezas geológicas e cobertos vegetais, assim como variadas ocupações humanas dos terrenos.
O Caminho dos Burros é uma antiga via de circulação pedestre, de homens e animais, muito utilizada por quem tinha de viajar entre as vilas das Lajes e de São Roque do Pico. Grande parte deste percurso é ainda percetível, sendo a caminhada realizada sobre o piso onde os antigos andaram.
O percurso inicia-se tendo de ultrapassar uma cancela que veda o caminho da canada de servidão por onde vamos seguir (Ponto 1). Adiante, antes que esta canada o leve ao pequeno cabeço à sua frente, preste atenção pois tem de sair e meter-se pelo atalho sobre lajidos à sua direita… seguindo ao longo de uma cicatriz que a vegetação apresenta. Passa junto aos cones vulcânicos que originaram o Mistério da Prainha entre 1562/4* (Ponto 2), a mais prolongada erupção histórica desde o povoamento dos Açores. Irá caminhar sobre estas lavas ainda durante algum tempo.
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*Fonte: Universidade dos Açores – Departamento de Geociências, Carta Geológica do Sistema Vulcânico Faial – Pico – São Jorge, elaborada com base em publicações de F. Machado (1955), Zbyszewski (1958,1962), Forjaz e Monjardino (1963), Forjaz, Monjardino e Fernandes (1965) – Fundo topográfico de I. Hidrográfico – fotovulcanologia de V. H. Forjaz.
Estamos num habitat de montanha, onde as rochas expostas estão ainda num processo de colonização, assediadas constantemente por diáspores da flora envolvente. É uma zona riquíssima, revestida por uma floresta baixa de montanha, com mistura de cedro-do-mato, uva-da-serra, folhado, azevinho, urze, tamujo e malfurada, em cima dos quais crescem as heras e os espigos-do-cedro; por baixo, os fetos, a orquídea endémica, conchelo-do-mato, e bracel-do-mato.Os tentilhões e os melros pretos lá vão soltando aqui e ali um canto mais sentido. Em pouco tempo o trilho, em lajido e empedrado, leva-o até ao fim desta planura irregular: à sua frente depara-se com a sempre comprida ilha de São Jorge e o profundo canal de mar, com as suas águas espelhadas a esconderem gigantes dos mares. É uma paisagem sublime… inesquecível. Ao iniciar a descida… uma explosão inesperada de trovisco-macho… está por todo o lado. Esta rara espécie endémica tem aqui uma população deveras surpreendente.
Encontramo-nos agora na vereda que desce a encosta da ilha. Muda o habitat, mudam as espécies. A floresta de nuvens dá lugar agora a fragmentos de laurissilva onde as espécies arbustivas ficam mais estioladas. Surgem-nos sanguinhos, louros, a silva endémica e mais fetos como língua-de-vaca e esfagno.
Como nós, certamente irá estranhar as macieiras no meio da vereda. Há curiosamente uma razão para lá estarem: diz-se que foram plantadas há muitos anos por aqueles que usavam este Caminho dos Burros, no intuito de, na época devida, satisfazer as necessidades de quem por aqui viesse.
Na primeira aberta que a vegetação lhe dá, avista um caminho. À sua esquerda, junto ao mar, a Vila de São Roque. A descida acentua-se e surgem nas encostas prados de altitude, compartimentados por sebes de vegetação natural. Os pássaros assobiam mais intensamente.
Chegou ao asfalto… vire à direita. Adiante, entre duas curvas da estrada, surge-nos um caminho de bagacina vermelha, siga por aí com atenção, pois o chão é escorregadio. Por aqui, de novidade, temos matas de criptomérias e acácias, à mistura com faia-da-terra, incenso e conteira.
Se reparar, está na fronteira entre as lavas do mistério da Prainha, à sua direita, e os terrenos mais antigos, à sua esquerda. Como é hábito nestas fronteiras, surgem frequentemente depressões ou linhas de água.
No cruzamento com o caminho denominado “Meia Encosta” (Ponto 3), vire à direita. Poderão ser avistados alguns fetos arbóreos, pombos torcazes (uma subespécie protegida, endémica dos Açores) e coelhos.
Chega a uma bifurcação (Ponto 4), onde deverá optar por seguir pela esquerda para S. Miguel Arcanjo ou pela direita no sentido de Baía de Canas, por um caminho tranquilo em que o som mais intenso deverá ser mesmo o resvalar das botas na bagacina… que não deixa ouvir mais nada.
Mais à frente um sinal para sair do caminho e entrar numa mata de acácias bordejada de grandes fetos (Diplazium caudatum)(Ponto 5). Nesta densa mata as árvores morrem de pé… mas depois caem, num emaranhado de madeira, parte viva, parte em decomposição. Aqui os sons mais intensos são dos pombos a levantar voo. Começam a surgir mais pinheiros, com as agulhas a acentuarem um pouco mais a mistura monocromática das folhas no chão da vereda.
Chegou à Estrada Regional, atravesse-a e siga pelo caminho de acesso ao Parque Florestal da Prainha.
Este parque de recreio é não só muito agradável, como poderá comprovar pela quantidade de pessoas que aqui vêm passar umas horas, como está também muito enriquecido pela representação etnográfica das atividades tradicionais, dos usos e costumes das gentes desta ilha. Logo de início junto à “adega” está um miradouro que lhe permite apreciar a grande plataforma lávica formada pela lava que desceu os Cabeços do Mistério e solidificou ao chegar ao mar, formando delta lávico da ponta do Mistério.
À direita deste delta lávico, onde nidificam barulhentas gaivotas, consegue um primeiro vislumbre sobre a Baía de Canas com a sua pequena praia, onde o calhau rolado teima em esconder boa parte da areia. Por cima deste miradouro, uma zona de merendas, com direito a grelhadores e sanitários. Aqui encontra a adega. Continue a descer, passando por uma zona de endémicas devidamente identificadas. Passa pela eira e está junto a uma casa típica com atafona e reduto. À sua volta tem mais estruturas de lazer e recreio, como sejam: o parque infantil, um cercado com gamos e parque de campismo.
Apresenta ainda uma agradável composição geobotânica onde não falta o cantinho das endémicas, os grandes blocos de escórias vermelhas e muitos exemplares arbóreos que nos dão uma aprazível sombra.
Prossiga, cruze o caminho principal, que desce para a Baía de Canas e continue do outro lado por um troço que está encerrado ao trânsito, bem mais perfumado, com um separador central armado em roseiral.
O caminho curva e mais abaixo a sinalização indica-lhe onde se dirigir para iniciar a vereda que o levará ao mar. Ao entrar nesta, vire imediatamente à esquerda – Não siga em frente. O chão irregular e os muros em pedra evidenciam a antiguidade deste atalho que se esconde no meio dos incensos. Na sua parte final, menos declivosa, os muros altos que ladeiam esta vereda de chão primitivo e as lajetas em pedra colocada e ajeitadas no meio da passagem, local preferencial para colocar os pés, denotam a importância que esta teria na vida da população, que sazonalmente encontrava aqui o único acesso à BAÍA DE CANAS.
Chega às primeiras casas. Desça sempre pelo antigo acesso à praia: uma peculiar escadaria, empedrada com calhaus rolados subtraídos à praia. É sem dúvida algo pouco frequente e que denota engenho e perícia por quem a construiu.
Junto ao mar (Ponto 6) aprecie a praia e relaxe com um bom banho nas águas do canal.
A BAÍA DE CANAS
A Baía de Canas está integrada na Paisagem Protegida da Cultura da Vinha do Parque Natural da Ilha do Pico.
Este aglomerado habitacional terá tido o seu início no séc. XVII, ligado ao cultivo da vinha. Enquanto unidade paisagística mantém algumas adegas reconstruídas a partir de antigas ruínas, currais e os carreiros de acesso pavimentados a pedra.
Como elemento de interesse patrimonial acrescido, encontra o Convento dos Frades, pequeno convento constituído pela Ermida da Boa Viagem (ou Ermida das Dores) e respetivo conjunto habitacional: dormitório, refeitório, cozinha, retrete, e currais, atualmente recuperado para habitação.
UMA PAISAGEM DE
SUSTER A RESPIRAÇÃO…
O Caminho das Voltas, assim designado por comportar na sua parte inicial um trilho com várias curvas que atenuam a inclinação extremamente acentuada do terreno, terá sido utilizado pela população que habitava na zona de Santo Amaro e Canto, junto ao mar, para aceder às regiões mais elevadas da ilha onde tinham plantações e gado.
Este percurso inicia-se junto do miradouro da Terra Alta (Ponto 1), de onde se pode desde logo apreciar a vista panorâmica sobre a Ilha de S. Jorge e o respetivo canal que a liga à ilha do Pico, paisagem que aliás predomina durante todo o percurso.
A descida faz-se por um trilho bem evidente sempre fresco e sombrante, uma vez que se faz dentro da vegetação, onde se podem encontrar vários tipos de espécies desde as endémicas, louro da terra e urze, a outra vegetação introduzida, como o incenso. Nesta parte do caminho passam-se por várias ribeiras que estão regra geral secas, uma vez que corre água nelas apenas na época das chuvas. Durante esta primeira parte do percurso não se encontram outros caminhos acessórios senão o principal.
Descida uma boa parte da encosta dentro da vegetação, este trilho “desagua” junto da zona habitacional. A estrada de asfalto deve percorrer-se por cerca de 400 metros, durante os quais se deve ter atenção à sinalização, pois passa-se por vários caminhos, tanto à direita como à esquerda, que se devem ignorar até que a sinalização claramente indique mudança de direção (Ponto 2). Aqui o panorama é bastante rural com áreas de pastagem e casas de pedra com antigas cisternas de aproveitamento de águas pluviais.
À direita deixa-se o asfalto e entra-se numa canada estreita (antigos caminhos de passagem entre terrenos, limitados por muros de pedra), ladeada por muros de pedra com quase dois metros de altura do lado direito e, após cerca de 50 metros, nesta canada vê-se, do lado esquerdo, esquecida por entre a vegetação, uma casa em pedra, abandonada, que terá sido uma fábrica de manteiga. Continua-se por esta canada abaixo. Passa-se por um terreno que terá sido aberto recentemente, no entanto, deve prestar-se atenção à sinalização pois, no mesmo sentido em que se desce, a canada continua; portanto, deve-se retomá-la. Esta canada desce em voltas inclinadas até ao Canto, lugar de adegas junto ao mar, muito apreciado durante o verão para os banhos e para as petiscadas estivais ao som dos cagarros (ave marinha) que por ali deambulam a partir do fim da tarde. Esta é uma zona de plantação de vinha onde se podem ver os “currais de pedra” de proteção às videiras em socalco.
Ao encontrarmos a estrada de asfalto, seguimos pela direita até encontrar uma estreita canada do mesmo lado. Devemos percorrer a canada que se encontra com uma ribeira. Esta ribeira está normalmente seca, exceto durante a época das chuvas. Percorremos a ribeira até ao mar durante cerca de 100 metros. Chegados às pedras da costa, contornamos para a esquerda até à estrada onde se encontra um largo e uma estrada onde está um poço de maré (Ponto 3); de lá era retirada a água, praticamente doce, filtrada pelas rochas do chão.
Daqui apenas tem que seguir a estrada durante cerca de um quilómetro. Ignore estradas e caminhos até encontrar indicação para a próxima zona balnear do lado direito (Ponto 4). Cerca de 100 metros antes deste entroncamento a estrada onde se caminha passa por cima de uma ribeira, mais uma vez, geralmente seca.
Agora de novo junto ao mar segue-se por um pequeno trilho que sobe a encosta do lado esquerdo. Este pequeno trilho leva à zona de falésia onde, do lado da terra, se encontram currais de vinha agora abandonados e cobertos de vegetação, alguma endémica como a protegida vidália.
Do lado direito, podem observar-se os campos de lavas aa ou biscoito, como são denominados nos Açores, onde o mar rebenta. Deve passar-se neste troço com a máxima discrição pois esta é uma zona de ninhos de cagarros entre março e outubro. Atenção! Pois a perturbação dos ninhos facilmente provoca o abandono por parte dos progenitores. Esta ave marinha é nidificante exclusivamente nos arquipélagos portugueses, e deles depende a sua sobrevivência e proteção.
Este pequeno troço, rico em natureza selvagem, termina num parque de merendas onde se pode fazer um pequeno piquenique. Daqui contorna o parque pelas traseiras e volta ao asfalto que se deve acompanhar sempre pelo lado direito.
Agora pelo caminho de asfalto, inicia-se o percurso entre vinhas e currais, percorrem-se cerca de 600 metros, que nos fazem passar também ao longo de um paredão de proteção do mar, e entra-se em Santo Amaro diretamente no largo da Igreja. Continua-se pela direita, seguindo pela estrada onde se encontra, do lado esquerdo, a Escola Regional de Artesanato de Santo Amaro. Lá podem apreciar as peças de artesanato local.
O percurso pedestre termina um pouco mais à frente, junto da rampa do Porto de Santo Amaro (Ponto 5), onde se pode visitar o Museu Marítimo de Santo Amaro, que faz memória à forte e singular tradição de construção naval, própria daquele local em que, outrora, se construíram as embarcações que fizeram história na navegação do Arquipélago dos Açores, desde as embarcações baleeiras, às de pesca local, costeira e de alto, bem como tantas que cruzaram os canais Pico – Faial e Pico – São Jorge durante os séculos XIX e XX. Ainda aqui hoje são construídas embarcações em estaleiros que, ao passar pelas ruas, se vislumbram no interior.
LENDA DA LUZ DA TERRA ALTA
Reza a lenda que em tempos existiu uma luz que circulava na Terra Alta e era vista por muitos habitantes. Era uma espécie de arco com uma luzinha no meio. Nunca a viam de perto porque, quando alguém se aproximava, ela desaparecia de imediato.
Fixava-se na casa de uma senhora que afirmava que esta luz era a sua companhia. O filho tinha morrido ainda novo, tendo ela lhe pedido que a iluminasse, ao que ele acedeu. De facto, conta-se que a luz ia para a loja, iluminar o marido enquanto ele moía, até tarde da noite.
Podia ser vista de noite e circulava desde essa casa até à baía do Canto, mas nunca saindo desta área. A Luzinha da Terra Alta foi vista durante 30 anos e ainda vive quem se lembre deste fenómeno.
ONDE A RURALIDADE, A NATUREZA, E O HOMEM SE COMBINAM
ONDE A RURALIDADE,
A NATUREZA
E O HOMEM SE COMBINAM…
O “Percurso Pedestre da Ladeira dos Moinhos” é um percurso excelente, quer pelas suas marcas de ruralidade, quer pelo património cultural, ambiental e paisagístico existente na freguesia de São Roque.
Iniciando o percurso, junto à Igreja Matriz (séc. XVIII) (Ponto 1), siga até ao Largo da Baía de São Roque e lance um olhar de norte a sul sobre a freguesia, deslumbrando-se com a paisagem e a simplicidade natural de um viver rural.
Atravessando a ponte de pedra de união das águas da Ribeira Seca e Ribeira de Dentro, suba por um curto caminho de asfalto, à direita, até à Ladeira dos Moinhos (Ponto 2). Ao longo da ladeira, pavimentada, pode observar um núcleo de cinco moinhos de água ou moinhos de rodízio desativados, com um sistema de levadas que liga os moinhos entre si e à Ribeira Seca.
Autênticas relíquias de antigos sistemas de moagem de milho e trigo da freguesia, transcrevendo a azáfama de outros tempos no local, onde, neste momento, nada se passa, mas sempre muito atrativas e rodeadas de abundante vegetação. Apenas o moinho junto à Estrada Regional, “Moinho da Paciência”, está recuperado, oferecendo uma melhor perceção do seu sistema de funcionamento.
Chegando à Estrada Regional, siga em frente, junto ao Tanque de Água da Baleia, grande cisterna de armazenamento de água, anteriormente necessária para a laboração da indústria baleeira no início do séc. XX, hoje utilizada pelos agricultores locais.
Prosseguindo o trilho, por entre campos de cultivo bordeando as margens da Ribeira Seca, aprecie a ruralidade marcada pelos ciclos da terra e as atividades agrícolas locais, consoante a época do ano.
Ao chegar à estrada municipal, siga em frente e desfrute da magnífica vista panorâmica da Eira (Ponto 3), outrora local onde os cereais eram secos e separados da palha – um espaço onde renascem as tradições esquecidas de convívio das populações, após a realização das atividades agrícolas.
Retomando o percurso, suba pelo antigo caminho de acesso às pastagens de média altitude, denominado “Caminho do Engenho” (Ponto 4). Chegando à estrada da Meia Encosta (Ponto5), vire à direita, percorrendo cerca de 700 metros e desfrute da paisagem verdejante retalhada pelos seus muros de pedra solta, em pastagens e campos de cultivo repletos de histórias.
Descendo pelo serpentear da Ribeira da Laje, encontrará o sexto e último moinho de água (Ponto 6) da freguesia, onde o lugar convida a uma viagem na nossa identidade cultural. Alcançando a estrada de asfalto, faça um pequeno desvio à esquerda e continue o serpentear da ribeira até à Estrada Regional. Atravesse a estrada e siga em frente por um estreito carreiro que o levará ao lugar da Barrela.
Prosseguindo o trilho por entre pastagens predominantes nas margens da Ribeira da Laje e da Ribeira Seca, que ao longo do percurso se cruzam, em diversos pontos, envolve-se numa paisagem verdejante ocupada particularmente por espécies arbóreas, com maior expressão e dispersão por todo o território, realçando-se o incenso, a acácia e o pau-branco. Encontram-se exemplares do louro-da-terra, urze, faia-da-terra, pinheiro-bravo e araçá-amarelo.
Finalizando o percurso aproveite para desfrutar da linda vista panorâmica sobre a baía de São Roque.
SISTEMA DE FUNCIONAMENTO
DOS MOINHOS DE ÁGUA OU
DE RODÍZIO
Os moinhos de água ou moinhos de rodízio constituem um foco de aproveitamento dos recursos hídricos, associado à satisfação de necessidades humanas ao longo do tempo, num dado espaço.
Trata-se de unidades de produção que permitem explicar as técnicas e as atividades humanas relacionadas com a transformação de cereais (trigo e milho) e a produção de farinha.
A localização destas edificações em relação ao caudal de água é importantíssima para o sistema técnico de produção.
A água é o elemento por excelência, gerando a força motora que faz mover a engrenagem do moinho.
Na parede do moinho ao nível do solo, uma abertura deixa entrar a água, cuja força faz mover uma roda externa horizontal. Esta roda de madeira (rodízio), com várias pás, era acionada pela força da água que corria ao longo da ribeira pelas levadas (um canal), sendo controlada pelo utilizador através das “comportas”.
A sua força descendente efetuava movimentos circulares na engrenagem que, por sua vez, comunicavam através de um elemento vertical de madeira, às pedras de moer. Estas pedras (mós) são de basalto, circulares e deitadas, sendo uma fixa, a inferior, e outra móvel, a superior rotativa, designadas por “pouso“ e “andeira“, respetivamente.
O movimento giratório da “pedra andeira“ sobre a “pedra pouso“ transformava o trigo e o milho, que ia caindo da “tremonha” ou “moega”, em farinha.
Estes moinhos eram usados somente no inverno, altura em que o caudal das ribeiras era abundante.
Segundo Francisco Medeiros e sua esposa, Maria Medeiros, os moinhos eram construções de utilidade doméstica, pertencendo a um, dois ou a três agricultores do local, para seu uso, tendo sido estipulado a cada família os dias e horas para a utilização da moagem.
O “Percurso Cultural da Prainha do Norte” é um percurso pedestre pelo centro histórico da freguesia, que liga o espaço às memórias e aos seus significados de notas de insólita beleza que se introduzem numa paisagem rural.
Inicia-se no Largo do Império (Ponto 1), junto à Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Ajuda, onde se realizam as maiores festas tradicionais. Em seu redor, o passal, o império e uma casa solarenga (casa classicizante), formam um dos mais belos conjuntos arquitetónicos do século XVIII, heranças de famílias abastadas, que retratam uma época na qual a freguesia atingiu o auge do seu poder económico.
Partindo do largo do Império, em direção a Este pela estrada municipal, percorrendo cerca de 500 metros, pode apreciar a beleza e o encanto de um viver rural enquadrado num cenário onde os campos agrícolas e a serra se combinam.
Na primeira bifurcação, subindo em direção à circundante sul, por um curto caminho lajeado de acesso aos campos de cultivo, observa um túnel construído em alvenaria de pedra. Atravesse o túnel e siga em frente por um caminho agrícola, até aos 125 metros de altitude, observando uma bela panorâmica sobre as pastagens e pomares, ora adornados por vegetação arbórea densa, ora limitados por grandes muros de pedra solta, que o conduzirá a um antigo palheiro. Presente no jardim anexo ao palheiro pode observar o azevinho, cuja dimensão é digna de registo.
Continuando o trilho agrícola, à esquerda, embrenhando numa área de vegetação de maior porte, destacam-se os castanheiros. Seguindo em frente, a pouco e pouco, irá tomando altitude, até alcançar o cume deste percurso (136 metros).
Prosseguindo o trilho cerca de 100 metros, vire à esquerda, por entre um túnel de vegetação, junto à margem da ribeira de Nossa Senhora, no qual se destacam as espécies endémicas como pau-branco e o louro-da-terra; espécies invasoras como o incenso e a acácia e espécies naturais como a faia-da-terra.
Descendo cerca de 200 metros, por um caminho de calçada antiga, desemboca na ribeira de Nossa Senhora, mirando uma deslumbrante panorâmica sobre o lugar do Canto da Areia. Atravesse a ribeira e continue a descer pela sua margem direita, por estrada de asfalto, percorrendo o núcleo habitacional mais antigo da freguesia (finais do século XVII) (Ponto 2), onde o negro das suas estruturas e as pontes de pedra solta nos ligam à história deste povoado.
Ao chegar à Estrada Regional, siga em frente, descendo sempre ao longo da ribeira até à sua foz, junto ao mar, envolvendo-se numa paisagem urbanística histórica pelas águas calmas da Baía da Areia (zona de areal), outrora porto comercial das especialidades do concelho na exportação de madeira, pastel, gado, vinho, trigo e laranjas.
À sua direita, atravesse uma pastagem e siga em frente pela zona de areal até á Casa do Fio (Ponto 3), antiga in-fraestrutura de apoio a comunicações telegráficas por cabos submarinos (século XIX), tendo sido utilizada nas grandes guerras mundiais.
Retomando a foz da Ribeira de Nossa Senhora, siga pela estrada em frente até à Ermida de São Pedro (séc. XVIII) (Ponto 4), onde é de realçar o rosto humano esculpido num bloco de pedra que serve de base à cruz que remata a fachada. Também poderá observar do seu lado esquerdo uma unidade paisagística constituída por um núcleo de palheiros (edificações de apoio à atividade agrícola destinadas ao armazenamento de alfaias, produtos agrícolas e forragem para animais).
Prosseguindo o caminho, cerca de 250 metros, vire à direita, por um antigo caminho de acesso ao Baixio (zona de areal e calhau rolado), torne a virar à esquerda e siga até ao porto tradicional da Prainha do Norte (Ponto 5).
Após uma pequena paragem, para a observação de aves marinhas, das quais se destacam os maçaricos-das-rochas, siga pelo caminho do mar até à piscina natural Poça Branca (Ponto 6), passando pelo farol e pelo antigo moinho de vento. Aqui poderá desfrutar das águas do mar e da panorâmica sobre a ilha vizinha São Jorge, bem como usufruir do pequeno parque de merendas para reabastecer as energias.
Continuando o trajeto, siga a estrada à direita do parque de merendas e vire na primeira bifurcação à direita por um caminho de bagacina vermelha. Ao percorrer cerca de 480 metros, vire à sua esquerda e siga até ao arco de formação basáltica (Ponto 7), descortinando o lugar da Baía de Canas, outrora o coração dos antigos vinhedos da freguesia. Com um pouco de sorte poderá ver um dos mais belos exemplares da borboleta-monarca.
Retomando o mesmo caminho até ao parque de merendas, siga em frente por entre um pequeno aglomerado de típicas adegas enquadradas num encantador rendilhado de “currais” de vinha, que transmitem pela sua beleza os anos de esforço e trabalho árduo destas gentes no cultivo de solos vulcânicos inóspitos, na oferta de um panorama único e de grande beleza.
Chegando ao próximo cruzamento, vire à direita, junto a um grande Poço de Maré, subindo até à Igreja Matriz, de Nossa Senhora da Ajuda, pela margem esquerda da ribeira do Império.
Finalizando o percurso, faça uma visita ao interior da Igreja Matriz, testemunho de dois períodos históricos, o fim da idade média, séc. XVI (início da sua construção) e idade moderna, séc. XVIII (a sua reedificação em 1787, após a erupção de 1562/4 que formou o Mistério da Prainha).
Termine o percurso com a vista panorâmica do adro da igreja sobre o mar.
FREGUESIA DA PRAINHA
Prainha foi a segunda povoação construída na costa norte da ilha. É pois uma das mais antigas do Pico. Em 1562/4, deu-se aqui uma grande erupção vulcânica, num pico próximo, onde se encontra a Lagoa do Caiado. A extraordinária torrente de lava chegou ao mar e formou então um grande mistério denominado Prainha. Este mistério, que se situa entre esta povoação e a de São Roque, está classificado como Reserva Natural.
Fonte: Freguesias Autarcas do Século XXI, Vol. VIII, Pág.691
POR CAMINHOS DE LAVA
Promover o contacto com a natureza, libertar os sentidos e passear por carreiros rurais e negros campos de lava é a nossa proposta para este percurso pedestre de grande beleza paisagística, permitindo conhecer alguns dos encantos das freguesias de Santo António e de Santa Luzia.
Iniciando o percurso junto ao caminho de acesso à Vigia da Baleia (Ponto 1), suba por um caminho de terra batida em direção ao Cabeço de Sant’Ana, vire na primeira bifurcação à esquerda, contornando o cabeço, onde encontrará uma pequena inclinação que o levará à Vigia. Aqui experimente a sensação de um verdadeiro vigia, que há anos anunciaria a presença de baleias com o lançamento de foguetes.
E quem sabe se não terá mesmo a sorte de avistar uma baleia! A vista, de excelência, permite ver, do alto, a ilha de São Jorge e as freguesias de Santo António e de São Roque, bem como a porção de Oceano Atlântico que as banha.
Retomando o trilho até ao ponto de partida, vire à esquerda cerca de 75 metros e enverede por um estreito carreiro de pé posto, entre casas habitacionais, que o levará à Estrada Florestal.
Subindo o serpentear do trilho, aprecie as cores vivas das pastagens e quintas desta localidade e respire profundamente este ar, um ar que enche a alma!
Alcançando a Estrada Florestal, junto à vertente sul do Cabeço de Sant’Ana, observe, à sua esquerda, uma exploração de bagacina, material utilizado em larga escala no Pico para a construção de vias rodoviárias.
Prosseguindo o trilho à sua direita, por estrada de asfalto, siga até às primeiras casas do interior da localidade de Sant’Ana. Vire à direita, seguindo a devida sinalização e, a cerca de 300 metros, encontrará à esquerda um estreito carreiro que o levará à Estrada Regional.
Atravesse a Estrada Regional, onde todo o cuidado é pouco, e siga, pela direita, até encontrar uma canada, do mesmo lado, que o levará às mais belas e profundas rilheiras, que se estendem no basalto, deixadas pelas marcas das rodas dos carros de bois, anteriormente utilizados para o transporte do vinho.
Chegando ao fim da canada, desça pela estrada de asfalto até encontrar a vereda que o levará a uma simpática e histórica zona de adegas (Ponto 2). Aqui poderá observar um poço de maré, os vestígios de um antigo armazém de vinho e o Carregadouro, rampa natural, de acesso ao mar, que os antigos utilizavam como forma de carregar os barcos com as pipas de vinho, exportadas anteriormente para os czares da Rússia.
Não deixe de apreciar a Arriba Fóssil, antiga linha de costa que foi substituída por uma nova escoada lávica, atual vertente de costa. Hoje, encontra-se repleta de vegetação endémica açoriana, que encontrou aqui um habitat propício ao seu desenvolvimento, nomeadamente, um endemismo raro – não-me-esqueças.
A arriba fóssil é, igualmente, um local de nidificação do cagarro, subespécie do Atlântico Norte, cuja maior população nidificante se encontra atualmente nos Açores.
Seguindo o antigo caminho da costa que ligava Sant’Ana ao Lajido, encha a vista com as suas panorâmicas sobre o mar e, na primavera e verão, quem sabe se não será presenteado com algumas surpresas – o avistamento de alguns exemplares da espécie migratória garajau comum.
À medida que caminha, será acompanhado por matos costeiros, até chegar aos campos de lava, onde a paisagem passa a ser mais nua e onde poderá observar diversas formações lávicas, como porções de lava encordoada e tumuli.
Chegando à povoação do Cabrito (Ponto 3), siga o percurso até à Ermida de São Mateus (séc. XVII/XVIII) (Ponto 4). Admire com atenção os seus pormenores, pois esta é a única ermida não caiada, cujas pedras basálticas foram trabalhadas com motivos florais e geométricos, tarefa que se revela de extrema dificuldade.
O percurso seguirá por estrada ladeada, à esquerda, pela importante paisagem da vinha e, apesar de se encontrar em Paisagem Protegida da UNESCO, desde Sant’Ana, é a partir do lugar dos Arcos (Ponto 5) que as vinhas se apresentam menos abandonadas. Os muros de vinha e os semicírculos (proteção das figueiras) existem numa extensão a perder de vista e as videiras rebentam de um terreno aparentemente inóspito. A paisagem é de postal, não concorda?
Finalize o percurso com a visita ao Núcleo Museológico do Lajido de Santa Luzia (Ponto 6) – um espaço vivo que testemunha o cultivo da vinha e a produção de vinho e aguardentes, como uma das maiores fontes de riqueza a nível da economia do concelho, traduzindo o êxito da exploração dos seus solos vulcânicos no final do século XV.
Chegou ao fim? Resta-lhe desfrutar das lembranças que ganhou com este percurso, mas guarde-as bem, porque com certeza serão especiais.
UM ENCONTRO PLENO COM A NATUREZA.
É na própria Lagoa do Capitão (Ponto 1) que este percurso tem o seu início e haveria poucas formas de o começar melhor. A presença da Montanha do Pico espelhada nas águas da Lagoa e as pastagens que a circundam formam um cenário de extraordinária beleza natural, onde reflorescem os encantos ocultos da paisagem sempre verdejante.
Retomando o caminho inicial da Lagoa, vire na primeira bifurcação à direita por um caminho de terra batida, onde a beleza da majestosa montanha o acompanha numa área de vegetação húmida, designada por Turfeira e de mata endémica. Ao longo do caminho, passa por diversas cancelas canadianas, cujo objetivo é impedir a passagem do gado entre pastagens, mas não constituem qualquer impedimento à sua passagem.
Ao percorrer cerca de um quilómetro surge, à sua direita, a Escarpa de Falha da Lagoa do Capitão (Ponto 2) e, esta sim, é de uma riqueza extrema no que diz respeito à flora endémica, habitat de várias espécies,
nomeadamente: o trovisco-macho, o azevinho, o folhado e o cedro-do-mato, em cujos ramos pode observar o seu parasita, espigos-de-cedro, muito comum nesta área da Lagoa do Capitão.
À sua esquerda, as ruínas de uma antiga queijaria (Ponto 3), que só funcionava nos meses de verão, por ser um local mais fresco, leva-o à imaginação do processo de fabrico do “Queijo Tradicional”.
Continuando o serpentear do trilho pela vegetação, surge, à sua esquerda, uma bela panorâmica sobre o Cabeço do Teixo, onde existem os últimos exemplares da planta que dá nome ao espaço. À sua direita, contornando o Cabeço dos Piquinhos (Ponto 4) terá uma agradável e inesperada surpresa... um miradouro natural com uma vista deslumbrante.
Num dia claro pode avistar não só a ilha de São Jorge, como as do Faial e da Graciosa, para além das freguesias de Santo António e de São Roque. Não se apresse e aprecie todos os pormenores, para que nada lhe escape e possa guardar consigo as sensações que este local lhe transmite.
Após contemplar esta beleza paisagística, volte atrás e siga pela sua direita, por um caminho de terra batida de acesso às extensas pastagens, onde se cria essencialmente o gado bovino. Encontrará, à sua direita, uma pastagem (devidamente assinalada) que o levará a um túnel de vegetação cerrada (Ponto 5) com cerca de um quilómetro de extensão, ocupado particularmente por espécies arbóreas, realçando-se o louro-da-terra, a urze, o pau-branco, a faia-da-terra, e o incenso.
À entrada do túnel, percorrendo um troço de 400 metros de comprimento, será necessário redobrar a sua atenção à devida sinalização, por se encontrar numa área de densa vegetação.
Descendo através do antigo trilho agrícola de pé posto, onde a riqueza em plantas endémicas não o deve surpreender, encontram-se com grande abundância, a erva-do-capitão, as margaridas, a cardamina e as orquídeas endémicas. “Cuidado para não pisar estas espécies”.
Entre a “mata endémica”, propriamente descrita, albergam-se várias espécies de pássaros, salientando-se o canário-da-terra, o melro-preto, o tentilhão, a estrelinha, a toutinegra, o pardal e a alvéola-cinzenta.
À saída do túnel desfrute de uma agradável vista panorâmica sobre a freguesia de São Roque.
Continuando o trilho, vire à direita, no próximo entroncamento, subindo em direção à Fonte (séc. XIX) (Ponto 6), junto à Ribeira de Dentro. As águas desta Fonte provêm do cimo da encosta, conduzidas através de um sistema ramificado de calhas, em telha tradicional da Graciosa, até à cisterna que deu origem ao antigo sistema de água canalizada para os chafarizes do Cais do Pico e de São Pedro, no Outeiro. Local de encontro de pessoas que aí iam buscar água ou lavar roupa, mas, apesar de atualmente a Fonte e a cisterna ainda existirem, o sistema de abastecimento de água à freguesia está abandonado. Hoje, é um lugar que nos transcreve, através da sua beleza natural, parte da nossa “Cultura Picoense”.
Retomando o caminho da Fonte, continue a descer por entre canadas, chegando ao lugar das Canárias, onde poderá observar milhafres. Vire à esquerda e siga a estrada de asfalto rodeada de vegetação densa até à Gruta das Canárias (Ponto 7), uma cavidade vulcânica descoberta recentemente, com cerca de 800 metros de extensão, que não está preparada para visitação.
Continuando o percurso, vire, à esquerda, no próximo entroncamento, descendo cerca de 450 metros até ao Convento de São Pedro de Alcântara (Ponto 8), atual Pousada da Juventude. É uma construção do século XVIII que traduz o esforço da população local e dos frades Franciscanos que para cá foram destacados,
após as erupções vulcânicas dos séculos XVI/XVIII, com o intuito de ajudar este povo a refazer tudo o que tinham perdido e a acreditar na esperança de viver, nesta ilha de “Mistérios”. Anexo ao convento encontra-se o chafariz do Cais do Pico.
Finalize o percurso com a agradável vista sobre a vila e a ilha vizinha de São Jorge.
Aproveite para visitar as exposições do Centro Multimédia de São Roque do Pico e o Museu da Indústria Baleeira de São Roque do Pico.
CENTRO MULTIMÉDIA
O Centro Multimédia (2003) é o culminar do projeto de reconversão e ampliação da antiga casa dos botes e depósito de óleo das “Armações Baleeiras Reunidas Lda.” (1942-1999), destacando em exposição permanente o bote a motor Baleeira (SR-41-B) e alguns retratos de atores Baleeiros, em São Roque do Pico.
MUSEU DA INDÚSTRIA
BALEEIRA DE SÃO ROQUE DO PICO
O Museu da Indústria Baleeira é o polo explicativo da atividade “Memória Baleeira”, sendo o principal centro de transformação industrial dos cachalotes capturados no Grupo Central do Arquipélago dos Açores.
Com a adaptação da antiga fábrica a Museu da Indústria Baleeira em 1994, os objetos industriais passaram a ter uma nova função, a de testemunho, relembrando o amplo complexo processo de transformação industrial do cachalote (matéria prima), que permitia a produção de vitaminas, óleos, farinhas e adubos (produtos de consumo). Valorizando não só os acervos museológicos, como os operários e pescadores que trabalharam na fábrica e que dela retiraram o seu sustento ou parte dele, como também o uso social dos vários produtos (consumo).
A LENDA DO TÚNEL DOS FRADES
Com a extinção das ordens religiosas, a comunidade franciscana do convento de São Pedro de Alcântara teve de o abandonar. Reza a lenda que, numa noite, num lendário corredor subterrâneo que ligava o convento ao Portinho da Baía de São Roque, os frades fugiram num embarque com destino jamais conhecido. “Levar a volta dos frades” começou então, na gíria popular, a conotar-se com o desaparecimento abrupto e misterioso de qualquer coisa.
Não se sabe ao certo se o túnel dos frades existiu ou se ainda existe, mas ainda hoje há quem reitere a sua existência.
LAGOA DO CAPITÃO
A Lagoa do Capitão é das lagoas mais conhecidas da ilha do Pico, devido à sua envolvente paisagística de grande beleza natural. Situa-se a 790 metros de altitude e tem uma profundidade máxima de 4,5 metros; uma área de 0,025 quilómetros quadrados e um volume de 43 103 metros cúbicos; a área da sua bacia é de 0,18 quilómetros quadrados.
A origem do seu nome deve-se ao facto de, na freguesia de São Roque, ter residido um Capitão proprietário da maior parte das terras envolventes à sua casa, que abrangiam uma grande área da freguesia, englobando a lagoa. Segundo alguns testemunhos da freguesia, o Capitão era um homem de boa-fé, um “Ajudante do Povo”.
A casa, apesar de se encontrar em estado de degradação, é um testemunho da arquitetura senhorial do séc. XVIII, inserida no Património Imóvel da Ilha do Pico. Ainda hoje é denominada pela população local por “Casa do Capitão”.
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