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A decisão de erigir um convento franciscano em São Roque do Pico está intimamente ligada á erupção de 1718 cujas lavas destruíram parte da freguesia de Santa Luzia. A relação entre a crise eruptiva e uma aparente ira divina terá impulsionado decididamente a pretensão mais antiga dos habitantes do Cais, terem sacerdotes que lhes dissessem a missa na então ermida de Nossa Senhora do Livramento.
Os habitantes do Cais tinham de se deslocar às paróquias de São Roque e Santo António da Furna para terem acesso à vida religiosa.
Muito mais ansiosos estavam de terem nesta jurisdição um hospício de religiosos, não só para lhes assistirem com a parte espiritual da palavra de Deus, confissão, assistência na hora da morte, enterros, sepulturas e missas, mas também na boa educação dos seus filhos, ensinando-os a ler, escrever e cantar, música, instrumentos e gramática.
Solicitada a autorização ao rei D. João V foi o beneplácito régio concedido em 1720, tendo-se dado continuidade ao processo com a angariação de fundos e escolha do local para a sua implantação
O local recaiu sobre a área entre o primitivo centro da vila e o Cais do Pico, onde o capitão-mor Sebastião Ferreira de Melo e a sua mulher Margarida Vieira Pimentel tinham fundado, em 1658, uma ermida de invocação a Nossa Senhora do Livramento em reconhecimento pelo milagre que salvou, de uma esquadrilha de corsários mouros, a nau em que o seu filho navegava para Lisboa para ingressar na vida religiosa.
Em 1723 fundou-se a capela-mor, e na noite de natal de 1724 foi celebrada a dedicação da nova igreja. A obra decorreu durante um período de tempo longo.
Em janeiro de 1727 fundou-se o 1.º dormitório por não terem chegado ainda do Brasil os tirantes que se esperavam para a igreja.
Chegados os tirantes acabou-se o corpo da igreja e as capelas colaterais em no final de 1728.
Tinham, portanto, decorrido 10 anos desde a erupção que impulsionara o projeto quando as obras desta estrutura que durante mais de um século abrigaria os frades franciscanos, atingiu um estádio que permitiu a sua utilização.
Existem várias semelhanças entre o processo de fundação deste convento e dos conventos dos Franciscanos nas Lajes, e de Santo António, na Horta. Estes edifícios foram construídos em locais onde pré-existiam ermidas fundadas por membros da elite local, e em todos eles a inovação das primitivas ermidas determinou a invocação às respetivas igrejas.
Ficou assim a venerar-se na igreja conventual a imagem de Nossa Senhora do Livramento, evocativa do milagre a que já nos referimos.
Em 1832, na sequência do decreto concebido por Mouzinho da Silveira, põe-se fim a mais de um século de vivência religiosa franciscana no convento.
Com a extinção das ordens religiosas, a comunidade franciscana do convento de São Pedro de Alcântara teve de o abandonar.
Reza a lenda que numa noite, num lendário corredor subterrâneo que ligava o convento ao Portinho da Baía de São Roque, os frades embarcaram para um destino desconhecido.
“Levar a volta dos frades” começou então, na gíria popular, a conotar-se com o desaparecimento abrupto e misterioso de qualquer coisa.
Não se sabe ao certo se o túnel dos frades existiu ou se ainda existe, mas ainda hoje há quem reitere a sua existência.
(Artigo número 6 no âmbito da celebração dos 476 anos de elevação de São Roque do Pico a Vila. O texto tem como base a obra ‘Uma Sociedade do Antigo Regime – São Roque do Pico: o território e as famílias’ de Igor Espínola de França.)
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